Cronologia do Movimento Cineclubista Brasileiro

A intenção desta cronologia é dar uma rápida idéia da história de quase 80 anos do movimento cineclubista no Brasil. Essa história ainda está para ser escrita; eu só conheço dois textos sobre o assunto: um que eu mesmo escrevi em 82, publicado pelo Cineclube da Fatec, de que há uma única cópia, acho, no Museu Lasar Segall, em São Paulo, e o do André Gatti, no verbete Cineclube, in F.Ramos e L.F.Miranda, "Enciclopédia do Cinema Brasileiro", Editora Senac, 2000 – que também foi publicado na Revista CineclubeBrasil, nº1, de novembro de 2003. Nenhum desses três é completo ou isento de imprecisões, mas este aqui, que destaca o período mais recente, das décadas de 70 e 80, foi escrito em grande parte de memória, sujeito , portanto, a muitas imprecisões e sobretudo a fazer muita injustiça, por omissão involuntária, quando se mete a citar pessoas e cineclubes. Peço aos leitores muita indulgência com os meus erros, mas ainda acho que algumas das informações ou idéias que eu apresento aqui nunca circularam antes. Elas podem ter alguma utilidade no momento em que novos cineclubes se dispõem a retomar algum tipo de atuação em conjunto e a refletir sobre a experiência passada do seu movimento – sobre a qual têm sido divulgadas algumas versões bem fantasiosas.


1928 Chaplin Club - Rio de Janeiro, 13 de junho de 1928. Nesse dia, Otávio de Faria, Plínio Sussekind Rocha, Almir Castro e Cláudio Mello fundaram o Chaplin Club. É o primeiro cineclube brasileiro, por manter uma atividade sistemática, organizada, e que alcançou grande repercussão nos meios cultos da então Capital Federal. Reunia as figuras de maior prestígio no ambiente cultural carioca, influenciando as principais polêmicas cinematográficas da época. O Chaplin Clube lançou, entre outros filmes que marcam a história do cinema no Brasil, Limite, de Mário Peixoto, e O Encouraçado Potenkin, de S. Eisenstein. Ainda em agosto de 28 o cineclube criava a revista "O Fã", seu órgão oficial, que duraria apenas dois anos, ou nove números.
1940 Fundado o Clube de Cinema de São Paulo, por Francisco Luís de Almeida Salles e outros. O cineclube é logo fechado pelo Departamento de Imprensa e Propaganda - DIP - do Estado Novo.
1946 Ressurge o Clube de Cinema de São Paulo - futura Cinemateca Brasileira - agora incorporando Paulo Emílio Salles Gomes.
1948
a
1952
Nascem cineclubes em várias cidades do País: Porto Alegre, Fortaleza, Salvador, Florianópolis, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Marília... É a geração em que surgem importantes críticos de cinema: Alex Vianny, Walter da Silveira, Moniz Viana, Cyro Siqueira, Paulo Gastal, para lembrar uns poucos
1952 Chega ao Brasil uma missão do OCIC – Ofício Católico Internacional do Cinema, para dar cursos e seminários e estimular a formação de cineclubes nas instituições ligadas à Igreja. Entre os principais nomes do "cineclubismo católico" estão Guido Logger, Edeimar Massote e Humberto Didonet.
1956 Na sede da Fundação Cinemateca Brasileira é fundado o Centro dos Cineclubes de São Paulo, primeira entidade representativa de cineclubes, presidido por Carlos Vieira.
1958 Fundada a Federação de Cineclubes do Rio de Janeiro – que vai ter entre seus presidentes Leon Hirszman, Cosme Alves Neto, entre outros nomes importantes em diferentes ramos do cinema brasileiro.
1959 Realizada a Primeira Jornada dos Cineclubes Brasileiros – congresso nacional que se tornará uma tradição e será realizado mais 22 vezes, até 1989, sempre em diferentes cidades e regiões do País.
1960 Surge a Federação de Cineclubes de Minas Gerais.
1961 Criada a Federação Gaúcha. Nesse ano também foi fundado o Conselho Nacional de Cineclubes - CNC - entidade nacional representativa dos cineclubes. Nos anos seguintes ainda surgirão as federações Nordeste e Centro-Oeste.
1968 Após a 7ª Jornada, realizada em Brasília, com o recrudescimento da ditadura militar, os cineclubes passam a ser perseguidos. É estabelecida na prática a censura prévia às suas atividades e todo tipo de entraves e pressões vão desmantelando todas as entidades no País. Calcula-se que existissem cerca de 300 cineclubes em 1968, agrupados em 6 federações regionais filiadas ao Conselho Nacional de Cineclubes. Em 1969 haveria no máximo uma dúzia de cineclubes em funcionamento e quase todas as suas entidades representativas haviam sido destruídas. Apenas o Centro de Cineclubes de São Paulo sobrevive praticamente inativo, em torno do idealismo de Carlos Vieira.
1972 Reorganiza-se a Federação de Cineclubes do Rio de Janeiro sob a direção de Marco Aurélio Marcondes.
1973 Ressurge a Federação Nordeste. Junto com Rio e São Paulo, reúnem-se naquele ano no tradicional Encontro de Marília para reestruturar o CNC.
1974 Após um hiato de 6 anos, realiza-se a 8ª Jornada Nacional de Cineclubes, em Curitiba. O documento final do Encontro, a "Carta de Curitiba", lança as bases programáticas que vão nortear o movimento cineclubista pelo menos por uma década
1976 Na 10ª Jornada, em Juiz de Fora, é criada a Dinafilme – Distribuidora Nacional de Filmes para Cineclubes, órgão do CNC, sob a direção de Felipe Macedo. O acervo inicial é composto de clássicos em 16mm que pertenciam ao acervo da Cinemateca, cedidos por Paulo Emílio Salles Gomes. Ao longo dos próximos anos esse acervo vai ser enriquecido principalmente com documentários brasileiros e produções "clandestinas" – não submetidas à Censura – que documentam a vida e as lutas dos setores populares. No ano seguinte, Marco Aurélio Marcondes cria na Embrafilme o "setor 16mm", que vai abastecer durante anos o movimento cineclubista com longas metragens brasileiros. E mais adiante a Dinafilme vai começar também a distribuir produções semelhantes de outros países da América Latina.
1977 No Encontro de Figueira da Foz (Portugal), o Brasil passa a fazer parte do Comitê Executivo da FICC – Federação Internacional de Cineclubes. Em São Paulo, sede do CNC e da Dinafilme, ocorre uma invasão pela Polícia Federal, que apreende 1977 filmes, principalmente clássicos, documentários britânicos, desenhos de Émile Cohl, etc… Em todo o País, durante a década de 70, sucedem-se invasões de cineclubes, detenção de cineclubistas, apreensões de filmes.
1978 A Dinafilme distribui uma produção alternativa nascente, que acompanha de perto os movimentos sociais, como o chamado "Cinema de Rua", em São Paulo, entre outros exemplos. Neste ano, que marca a retomada dos movimentos grevistas, a distribuidora monta equipes móveis que, com o apoio de alguns cineclubes sindicais, exibe os filmes que documentavam as greves do ABC e ficavam prontos em tempo de serem apresentados nas grandes assembléias sindicais que se realizavam em todo o meio operário. No final dos anos 70, a maioria dos cineclubes – que já são 600 filiados nominalmente ao CNC – é de bairros das periferias das grandes cidades. A atividade de distribuição da Dinafilme atinge mais de 2.000 pontos de exibição, em associações, sindicatos, igrejas e diversos movimentos populares. Vários cineastas, que acompanham de perto a distribuição de seus filmes pela Dinafilme nesse circuito popular, são influenciados por esse contato com o público e, de resto, pelo próprio clima de resistência que já é muito nítido no Brasil; seus filmes – e até uma certa estética – refletem o convívio com uma realidade em parte criado pelo movimento cineclubista: O Homem que Virou Suco, de João Batista de Andrade; Gaijin, de Tisuka Yamasaki; Eles não Usam Black-Tie, de Leon Hirszman – para citar apenas alguns – e toda uma produção de curtas e documentários que a Dinafilme recolhe na Bahia, Pernambuco, Paraíba, Brasília, Minas Gerais, Rio, São Paulo, etc. repassando-os para todo o Brasil. A Distribuidora, contudo, não consegue remunerar o custo de produção desses filmes – aspecto essencial apara continuidade dessa relação com os realizadores – e é cronicamente deficitária. Esse problema vai gerar duas vertentes: uma levando à criação de uma distribuidora "concorrente", a CDI – Cinema Distribuição Independente, ligada a alguns realizadores de São Paulo, que procura ser mais profissional e eficiente; por outro lado, a Dinafilme começa a fazer uma série de experiências para rentabilizar suas atividades. Essas experiências terão muito sucesso, mas não no sentido pretendido, pois sairão do controle da distribuidora e do Movimento.
1979 Nova invasão da Dinafilme pela Polícia Federal. Mas desta vez ela enseja uma grande vitória dos cineclubes. Já sem censura à imprensa, a violência ganha amplo destaque e uma mobilização solidária de todos os segmentos da sociedade, em todo o País – articulado pelo CNC e as federações – obriga o Ministro da Justiça Petrônio Portela a se retratar publicamente e ordenar a devolução de todo o material apreendido. Felipe Macedo, pelo Brasil é reeleito – em Marly-le-Roi (França) – para a direção da FICC, ocupando o Secretariado Latino-americano, na gestão de François Truffaut. Em 1981 ainda haverá a recondução ao cargo, em Havana, Cuba.
1980 O Homem que Virou Suco, melhor filme do Festival de Moscou desse ano, é lançado simultaneamente no circuito comercial pela Embrafilme e nos cineclubes de bairro pela Dinafilme. A distribuidora dos cineclubes e o Sindicato dos Jornalistas produzem outra experiência, buscando maior rentabilidade com o lançamento mais elaborado de programas de curtas (sobre greves, movimento operário, índios, etc.) e longas metragens – como Braços Cruzados, Máquinas Paradas, de Sérgio Toledo e Roberto Gervitz.
1981 Fica cada vez mais patente a mudança do modelo de distribuição – e conseqüentemente de exibição – no Brasil. A concentração do mercado leva paulatinamente ao fechamento de 70% dos cinemas e a uma queda de público equivalente. Já no final dessa crise, depois de discutida na Dinafilme e aprovada na Jornada de Campo Grande, toma corpo a idéia de criar uma sala mais "profissional" em 35mm, ocupando os espaços deixados livres pelo cinema americano – assim como a enorme disponibilidade de equipamento dos cinemas fechados. Graças ao trabalho de António Gouveia Jr, Arnaldo Vuolo, Frank Ferreira e muitos outros, surge o Cineclube Bixiga, que influenciará profundamente a evolução do cineclubismo e do próprio mercado de exibição, sendo considerado a origem e inspiração dos atuais grandes circuitos culturais de que o País dispõe. Por outro lado, a inflação crescente, o aumento nos custos de frete e a sensível diminuição das atividades culturais das instituições federais como a Embrafilme dificulta muito o funcionamento dos cineclubes menos organizados. E a progressiva democratização da vida nacional passa a atrair as lideranças dos cineclubes para os movimentos sociais, políticos e partidários. Até o final dessa década, a quase totalidade dos cineclubes 16mm e todas as entidades representativas dos cineclubes irão desaparecendo. Não sem antes protagonizar mais algumas experiências.
1984 Em meio à sua própria crise, o movimento cineclubista se divide profundamente. O setor que tenta relançar o movimento em torno da atividade em 35mm como base de apoio para os demais cineclubes é derrotado por apenas um voto nas eleições da Jornada de Curitiba desse ano, marcando o final de uma "geração" que havia sido representada por nomes como Marco Aurélio Marcondes, Luiz Fernando (Mosquito) Taranto, Felipe Macedo, Antonio Claudino de Jesus, Nélson Krumholz, Marisa Anoni, Vera Moss, Ricardo Araújo, Fernando Kaxassa, Marcos Valério Guimarães, Antonio Gouveia Jr, Carlos Seabra… e diversos cineclubes que também marcaram a sua e, às vezes, épocas posteriores: CC Glauber Rocha, CC do Leme, CC de Marília, CC Barraco, CineclubeFau, CC Barão, CC CAASO, CC Cauim, CC de Campina Grande, CC Tirol, CC da Bahia, CC de Manaus, CC do Acre, CC de Porto Alegre, CC de Caxias, CC Coxiponense, CC do Sindicato dos Metalúrgicos de Santos, CC dos Comerciários de Brasília, os "radicais" cineclubes universitários de Belo Horizonte, os cineclubes ligados ao Movimento Negro de Salvador, os cineclubes dos bairros de periferia de São Paulo, da baixada fluminense e tantos, tantos outros, difíceis de enumerar e a que é impossível fazer justiça escrevendo apenas de memória… A partir desta data, os principais acontecimentos cineclubistas se darão de maneira mais ou menos isolada, já sem ligação com as organizações do movimento. A gestão de Diogo Gomes dos Santos é justamente marcada pelo combate, nas Jornadas, aos cineclubes 35 mm, chamados de "burgueses".
1985 Surgem (ou abrem sua sala 35mm) os cineclubes Oscarito (São Paulo), Cauim (Ribeirão Preto), Barão (Campinas), Estação Botafogo (Rio de Janeiro) e Porta Aberta (Brasília). A tendência prossegue nos anos seguintes, e outros tipos de salas também aparecem na esteira dessa experiência, em Belo Horizonte, Salvador, Curitiba, Porto Alegre e outras.
1986 Numa nota tragicômica, na verdade apenas trágica, na Jornada desse ano é eleito para a diretoria do CNC – em aliança com a diretoria anterior – um grupo do Paraná, que se diz financiado pelo presidente da Líbia, dublês de fascistas e fundamentalistas (andavam armados, combatiam os cineclubistas judeus e desprezavam as mulheres – alguns anos depois, já fora do Movimento, alguns deles serão inclusive processados por racismo com base na Lei Afonso Arinos).
1987
a
1989
O movimento cineclubista se desarticula, mas antes destitui essa diretoria, substituindo-a por um colegiado com um mandato tampão sob responsabilidade de antigos dirigentes do movimento. Em 1988 faz-se a 22ª Jornada em Campinas, comemorando os 60 anos do cineclubismo e tentando levantar o moral do movimento. Mas já é tarde, em 1989 realiza-se uma última e melancólica Jornada em Vitória, ES, e é eleita uma diretoria que mal chega a assumir e já não consegue reunir forças suficientes para manter os cineclubes atuando como um movimento.
1990 Nesse ano surge o Elétrico Cineclube, em São Paulo, com duas salas de cinema e uma de vídeo, além de manter várias outras atividades (teatro, música, feira de trocas, etc.). O Elétrico e o Estação inauguram o lançamento de filmes com empresas comerciais, com grande sucesso. O extinto Banco Nacional patrocina inúmeras salas pelo País afora (o próprio Estação Botafogo, o Savassi, em BH, o Vitória, em Campinas, entre outras) e em Vitória, ES, surge o CC Metrópolis, na UFES. É um belo último suspiro exclusivamente cineclubista: até meados da década esses cineclubes – e os que os haviam antecedido – morrerão ou terão que se adaptar a uma forma de gestão e funcionamento propriamente comercial. As salas que conseguem se adequar à nova realidade do mercado e do País obtém sucesso crescente e se expandem pelo Brasil. Em particular o agora Grupo Estação, criado por Nélson Krumholz e Adhemar Oliveira em 1985. A partir de 1993 Oliveira dirige seu próprio circuito, um dos mais importantes do Brasil. Uma boa parte desse sucesso está ligada à característica marcadamente cultural e de vanguarda (com importantes mostras anuais com o cinema de todo o mundo), além da ligação com o cinema brasileiro e várias atividades educacionais que ambos os grupos conseguiram aliar a uma eficiente administração.
2003 Depois de um hiato de 14 anos é organizada uma Jornada de Reorganização do Movimento Cineclubista em Brasília, que revela a existência de um grande número de cineclubes atuando isoladamente, principalmente nas capitais e algumas cidades importantes de muitos Estados, e em maior número no Rio Grande do Sul e particularmente no Rio de Janeiro. Com muita boa vontade mas mal organizada e com poucas propostas, a principal resolução dessa Jornada é preparar devidamente uma próxima.
2004 Constituída a Comissão de Reorganização do Movimento Cineclubista, com representantes de várias regiões do País, suas tarefas principais são:
  1. a organização de uma Pré-Jornada, para preparar um congresso bem representativo, que possa reconstituir a entidade nacional dos cineclubes e estabelecer um programa de consolidação do movimento;
  2. organizar o referido encontro, a 25ª. Jornada Nacional de Cineclubes.
Como já havia ficado claro no ano anterior, em Brasília, três grandes grupos se identificam durante o ano e nas atividades organizadas pela Comissão Nacional:
  1. os cineclubistas mais antigos, com muitos dos que dirigiam o movimento entre 1974 e 84 (ver esse período) e que, na maioria dos casos, apenas começam a organizar seus cineclubes a partir deste ano, em várias partes do País;
  2. os cineclubistas que gravitam em torno do Centro Cineclubista de São Paulo e da liderança de Diogo Gomes dos Santos, presidente do CNC na gestão 84/86, a que se somam novas iniciativas impulsionadas por um segmento do Partido Comunista do Brasil, também principalmente em São Paulo;
  3. os cineclubistas surgidos nos últimos anos (desde o final dos anos 90), bastante ligados à realização de filmes e a novas experiências técnicas e de organização: destaca-se o Rio de Janeiro, com o maior número de entidades, mas igualmente o Rio Grande do Sul e vários outros estados.
Os dois primeiros grupos logo apresentam dificuldade para se entenderem; os cineclubes novos perdem com isso um pouco de motivação. Também uma certa extrapolação do seu mandato - ao passarem a negociar com o governo federal um projeto não discutido de organização de cineclubes em todo o País - afasta um pouco a Comissão de seus objetivos. Ainda assim, a Pré-Jornada, em abril, é um sucesso - devido também ao excelente trabalho desenvolvido pelo CREC, de Rio Claro (SP), que a organiza - com mais de 100 representantes de cineclubes de grande parte do Brasil. Ao mesmo tempo, ela deixa de aprofundar o debate sobre a organização e projetos do movimento, falhando em transformar a grande motivação de todos em mecanismos e projetos de trabalho comum. O temário da Jornada, as propostas para a entidade e seu programa só vão ser divulgados para o movimento, muito precariamente, às vésperas do Encontro.
O apoio do governo federal também começa a se mostrar menos claro e sistemático. O grupo do CCSP (Centro Cineclubista de SP), encarregado da organização da 25ª. Jornada na capital de São Paulo, mostra-se incapaz de organizá-la. Menos de um mês antes do congresso, uma equipe de representantes de vários cineclubes, sob a coordenação de Antonio Claudino de Jesus, do ES, tem de se instalar em São Paulo para garantir a realização da Jornada - e um I Encontro Ibero Americano de Cineclubes, realizado em Rio Claro imediatamente antes do Encontro nacional. Também fica evidente que o CCSP trabalha muito mais na perspectiva de garantir o controle da futura entidade e os pretensos recursos que se imagina virão do governo. Uma vez assegurados os recursos (recebidos em nome do CCSP) e a organização da Jornada, o grupo assume novamente a administração da Reunião.
A Jornada corre muito mal, e a maior parte do programa não é realizada. Fica patente o golpe premeditado, uma vez que os "cineclubes" ligados ao CCSP, apenas na cidade de São Paulo, apresentam-se em número igual ao da soma de todos os cineclubes do resto do País. E notoriamente, como até hoje, a cidade de São Paulo não tem quase nenhuma atividade cineclubista. Essa atitude, porém, provoca um efeito inesperado e positivo: a união do restante do País. Cineclubistas mais antigos e mais novos encontram suas afinidades e organizam uma chapa com representação de dez estados e a maioria absoluta da assembléia, além de se acertarem em torno de um programa sucinto, mal discutido, mas unitário. A lamentar a Bahia, que apesar de ter participado e contribuído com os trabalhos - especialmente na elaboração dos Estatutos da entidade, que foram discutidos e aprovados na Jornada, com muita dificuldade - não toma posição. A minoria, composta por grupos da capital de São Paulo e mais duas ou três cidades do interior, promove uma ruidosa retirada de plenário, denunciando a arbitrariedade... do resto do País. A Jornada foi realizada em dezembro e encerra a história desse ano.
2005 Esse foi um ano de recuo, inação e perplexidade. Saído da Jornada com uma direção ampla, com elementos de dez estados, e representando um encontro das duas últimas gerações de cineclubistas do Brasil, o novo CNC tinha perspectivas muito promissoras. É difícil dizer até que ponto o "racha" ocorrido durante a 25ª. Jornada (2004) teve influência nisso, mas o fato é que o governo federal deixou completamente de apoiar o movimento cineclubista. E os cineclubes não puderam ou não souberam encontrar alternativas de sustentação autônoma do seu trabalho como movimento nacional integrado. Desde o início, a nova direção estabeleceu e negociou com o Ministério da Cultura um programa de consolidação, de incentivo à criação de novos cineclubes e de promoção de encontros, entre os quais se destacam, como sempre, a Pré-Jornada e a Jornada, instrumentos tradicionais e fundamentais de articulação do movimento. Mas a relação não se manteve, o programa não foi cumprido e o CNC ficou boa parte do ano à espera dos recursos do Estado, sem construir alternativas próprias. A Pré-Jornada, que deveria acontecer em abril, só foi realizada em setembro (no Cineclube Cauim, em Ribeirão Preto, SP), com os recursos dos próprios participantes e apoio da Secretaria de Cultura de São Paulo: evidentemente não repetiu o sucesso do ano anterior. Nesse mesmo mês, o CNC, junto com a ABD-Associação Brasileira de Documentaristas, tenta organizar um circuito de filmes, integrado por cineclubes e seções regionais da ABD: participam cerca de 30 entidades, com muito entusiasmo, mas com má organização e resultados pouco significativos - cerca de 20 espectadores em média, por local. A iniciativa não vingou. A 26ª. Jornada, prevista para dezembro, também não obtém quaisquer recursos da área federal, o que impede a sua realização. Além da ausência do governo federal, ficam patentes a falta de articulação real nos planos estaduais e a incapacidade do CNC e do movimento de encontrarem outras formas de aliança e apoio. E assim termina o ano, sem qualquer avanço visível no movimento cineclubista, no plano nacional. É importante destacar, contudo, que o número de cineclubes parece continuar aumentando, atingindo novas regiões e criando novas formas de atuação em âmbito local. No Espírito Santo, em especial, houve um grande crescimento de atividade e de organização regional, mas também vale lembrar o Rio Grande do Norte, Ceará, Minas Gerais, a região Centro-Oeste, entre outras, onde novos e vigorosos cineclubes vêm se afirmando.